Residência Sergius Erdelyi
É a primeira imersão artística da cidade de Tijucas do Sul, no interior do Paraná, com foco no trabalho de Erdelyi, multiartista austríaco que fomentou a arte na região.
A residência ocorrerá do dia 11 a 31 de agosto, no Espaço Criativo Sabiá Laranjeira, antiga casa-ateliê de Erdelyi. O programa conta com ações como oficinas para rede pública de ensino, visitas guiadas, e bate papo online com os artistas até dezembro de 2022.
O objetivo é fomentar a arte a partir dos espaços de Sergius Erdelyi, de onde já saíram milhares de obras, estimular a apreciação da comunidade, revitalizar a paisagem e fomentar o turismo. As dinâmicas propostas abordarão temas que vão da criatividade e produção artística à sustentabilidade e agricultura familiar, fomentando a integração de tais temas: arte, saberes rurais e artesanais, natureza e contemporaneidade.
O artista
Artista, inventor e empreendedor, Sergius Erdelyi deixou para Tijucas do Sul e para o mundo um legado que vai além do amplo acervo com pinturas, gravuras e obras tridimensionais. Além de engenheiro e inventor, Sergius foi escultor e pintor, trabalhando com telas, mosaicos, calcogravura, tapeçaria e vitrais. Este último produziu centenas, entre eles os vitrais da Igreja Matriz de Tijucas do Sul e da Biblioteca da PUCPR.
Nascido em Neusatz (parte do antigo Império Austro-Húngaro), ele chegou ao Brasil por volta de 1953, já formado em Engenharia Mecânica, e com patentes de invenções como um aquecedor domiciliar e uma máquina de costura em seu currículo. No Brasil, trabalhou em multinacionais e se nomeava como “artista de fim de semana”, embora a produção fosse intensa, contando com mais de 4 mil obras catalogadas e com participação em exposições em Nova York, Áustria, na XII Bienal Internacional de São Paulo, no MON – Museu Oscar Niemayer, entre outras.
Erdelyi desembarcou em Tijucas do Sul por volta de 1974, onde iniciou também trabalhos sociais e ambientais. Filantropo, ajudou na construção de casas para diversas famílias; fundou a Creche São Francisco e o Lar da Criança; fez parcerias com a Associação Paranaense de Cultura-APC em estruturas arquitetônicas que construiu, realizando atendimento à comunidade com serviços gratuitos, de fisioterapia à veterinária, o que lhe valeu o Título de Cidadão Honorário de Tijucas do Sul em 1999; criou o Vivat Floresta – área de pesquisa florestal, ecológica e proteção da vida animal silvestre – e a Vivat Araucária – com plantio de 200 mil árvores –; e se envolveu também em causas contra o aquecimento global.
Hoje, a história do artista faz parte do currículo escolar das escolas de Tijucas do Sul; a creche que ele fundou foi doada à Prefeitura e está em funcionamento; e o complexo arquitetônico que ele construiu foi comprado pela Prefeitura e é utilizado como sede da Secretaria de Educação e onde está localizado o museu do artista.
O território
Tijucas do Sul está localizada na Região Metropolitana de Curitiba e faz parte da porção sul do Primeiro Planalto Paranaense na região sudeste do estado do Paraná. Apesar de possuir uma grande extensão territorial de 672,2 km2, o município conta com pouco mais de 17 mil habitantes, dos quais 80% vivem e trabalham na zona rural. Sua economia baseia-se na agropecuária com destaque para a produção de milho, batata inglesa, soja, feijão, agricultura orgânica, cogumelos champignon, morangos, além do extrativismo de argila, caulim, madeiras e erva-mate.
A emancipação político-administrativa aconteceu em 1951 com a criação do município de Tijucas do Sul e o nome vem de “tijuco ou tejuco”, palavra de origem tupi que provém dos depósitos de argila de coloração cinza-escura abundantes na cidade. A grande beleza da região com as nascentes do Rio Negro e do Rio da Várzea, a existência de diversas cachoeiras, serras, vales e represas, o clima e a paisagem subtropical que propiciam a criação de cavalos de diversas raças, favorecem o turismo rural e ecológico.
Durante a residência, os artistas selecionados estarão em diálogo com moradores de Tijucas do Sul envolvidos em projetos de produção sustentável de alimentos, criação artística, memória e saberes rurais, pesquisa da fungicultura, entre outros.
Pessoas naturais de Tijucas do Sul como o Agenor, que dedicou grande parte de sua vida à lavoura , ensinava no município Técnicas Agrícolas e mantém um Museu Rural de maneira independente, um resgate histórico da região; e como a Rosângela, autodidata em diversas técnicas artísticas, que em sua juventude foi aluna de Erdelyi e hoje é coordenadora do museu que mantém a maioria das obras do artista. E também pessoas que escolheram sair dos centros urbanos para viver e trabalhar em Tijucas do Sul, como Seu Camilo e a Dona Neia, que em busca de uma vida mais saudável e sustentável, hoje produzem alimentos orgânicos em um sítio e comercializam nas cidades vizinhas; e como o Hemerson e a Camila, que encontraram em Tijucas do Sul um lugar propício para continuarem suas pesquisas com cogumelos e assim tornar mais acessível a divulgação e produção da fungicultura no Brasil.
Através do diálogo com esses interlocutores a Residência Sergius Erdelyi propõe aos artistas um intercâmbio de saberes distintos, mas que convivem no mesmo território e criam uma rede de cultura própria e diversa.
A casa-ateliê
A singular casa construída por Sergius Erdelyi foi projetada em 1975, em estilo tradicional europeu, lembrando as fazendas da sua infância; com uma cozinha grande com fogão à lenha, salas com lareiras, biblioteca, e quartos amplos com banheiros. Estrutura que fica em torno de um charmoso jardim interno e um extenso jardim externo, com obras tridimensionais do artista, trilhas na mata e lago – região que ele reflorestou ao se instalar na cidade. Em depoimentos, contou sobre a construção: “No telhado, adotei um conceito um tanto divergente daquele empregado nas construções usuais no Brasil, o que possibilitou aproveitar bem os sótãos sob os telhados íngremes” – E foram os sótãos que se tornaram o Ateliê, composto por 3 salas.
Na área externa, a 300 metros da casa, Erdelyi construiu também, em 1984, a Capela São Francisco de Assis, com vitrais que contam a história do santo. Na época, nomeou suas terras de Fazenda São Francisco de Assis, por “simpatia absoluta” – como ele dizia – com a filosofia de vida de São Francisco, sobretudo por seu amor com a natureza e os animais. E foi neste espaço que viveu por cerca de 40 anos até falecer em 2015.
Em 2018, a antiga residência e ateliê de Sergius Erdelyi foi locada com o intuito de desenvolver no espaço eventos diversos, cursos, projetos de estímulo à criatividade, oferecer hospedagem e também dar continuidade ao trabalho dele, através da divulgação da sua inspiradora história como artista e empreendedor, da preservação ambiental e do cuidado ao próximo. Assim nasceu o Espaço Criativo Sabiá Laranjeira, que busca sensibilizar as pessoas através da arte e do contato com a natureza.