Exposição
A exposição coletiva “Processos e Afetos” resultou da experiência vivenciada na Residência Sergius Erdelyi, em Tijucas do Sul-PR, pelos artistas Joana de Lima, Maikel da Maia, Patrícia Jerônimo, Rafaella Pacheco, Ricardo Wera e Walter Thoms; e ficou em cartaz no Museu Municipal Sergius Erdelyi de setembro à dezembro de 2022. Confira os textos da curadoria, fotos e vídeos:
Processos e Afetos, por Milena Costa
O processo de criação em uma residência artística é ao mesmo tempo libertador e desafiador. Libertador, porque é um momento em que o foco da atenção dos artistas é direcionado apenas para seus trabalhos. O desafio surge da mesma fonte: com a atenção voltada apenas para as suas produções, as questões se multiplicam e se afetam pelas novas relações. Uma das perguntas centrais é: Como tornar visível o processo percorrido ao longo das últimas semanas? É nesse lugar que surge a exposição “Processos e Afetos” que reúne os trabalhos de Walter Thoms, Rafaella Pacheco, Ricardo Wera, Patricia Jeronimo, Maikel da Maia e Joana de Lima.
Os artistas compartilham com o público trabalhos por ora finalizados, por ora em processo. Quer dizer, no contexto de uma imersão, nossos olhares se voltam não apenas para aquilo que parece finalizado, mas sim para tudo que foi vivido.
Residir em um espaço desconhecido como foi para aqueles que vivenciaram o Sabiá Laranjeira (antiga casa-ateliê do artista Sergius Erdelyi), é sempre um movimento de deslocamento. Neste caso, estamos falando de um duplo deslocamento, pois é tanto uma mudança radical na rotina dos artistas selecionados para este projeto, como uma transformação de seus lugares de trabalho. Para o fotógrafo Walter Thoms seu “estúdio” passou a ser principalmente as trilhas e campos de Tijucas do Sul. Ao procurar cogumelos para serem catalogados e analisados, Thoms também encontrou a população local, aqueles que dedicam suas vidas a esses seres da natureza e as paisagens.
O espaço externo à casa foi importante para Rafaella Pacheco e Joana de Lima. A primeira se dedicou a coletar pedaços de madeira que possuem uma história afetiva relacionada ao lugar onde foram encontrados. A segunda angariou materiais nativos que poderiam ser transformados em corantes para o tingimento de tecidos. Após essas coletas, tanto Rafaella quanto Joana retornaram ao ateliê e manipularam esses materiais encontrados. Rafaella conectando os fragmentos de madeira e transformando-os em composições pictóricas e Joana colorindo os tecidos que em um segundo momento eram recortados e conectados pelo ato de tecer. Estar em comunidade foi um processo de escuta para Maikel da Maia que compartilha nesta exposição desenhos realizados a partir do colecionismo de histórias e sensações. A escuta atenta em meio às visitas aos membros da comunidade de Tijucas como o Sr. Agenor, colecionador de objetos, memórias e afetos, ganhou outro corpo com os desenhos do artista.
A imersão em ateliê foi fundamental para todos os artistas, em especial para Patrícia Jerônimo e Ricardo Wera. Patrícia trabalha com cianotipia, técnica de fotografia histórica em que o laboratório é espaço central para a pesquisa visual. Durante a residência a artista focou na vivência em comunidade e o trabalho aqui mostrado traz esses registros. Já Ricardo Wera chegou no Sabiá Laranjeira com vontade de experimentar. Desenhista experiente, Wera focou na investigação de técnicas de pintura. Suas imagens trazem um alerta sobre a preservação de tudo aquilo que chamamos de natureza e compartilham com os visitantes da exposição a cosmovisão do povo Mbyá Guarani.
Essa mostra pode ser entendida como uma ponte entre artistas e público sobre a intensidade das pesquisas e processos vivenciados nos últimos 20 dias. Esperamos que essa ponte permaneça enquanto uma travessia para que sigamos conversando sobre arte contemporânea na comunidade de Tijucas do Sul.
Pieter Tjabbes foi Diretor Técnico do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre os anos 1990 e 1991, e diretor do Stedelijk Museum em Schiedam, na Holanda, entre 1991 e 1995. Ainda no Brasil, colaborou com o Ministério da Cultura e com a Fundação Bienal de São Paulo. Também foi curador de diversas exposições como Rembrandt, Palatnik, Escher, Índia!, Mondrian e o movimento De Stijl, O Egito Antigo, de Kasimir Malevitch, de Vincent Van Gogh e Jean Michel Basquiat.



















